Após anunciar o longa-metragem “Do You Like Horror Movies?”, previsto para outubro de 2026, o cineasta Ygor Monroe antecipa o lançamento de “Evil”, um curta de 13 minutos que inaugura oficialmente sua trilogia de terror. A sequência inclui, além do curta, o já anunciado longa e “The Narcissist”, ainda sem data de estreia.
O projeto, profundamente pessoal e carregado de simbologia, se estrutura como uma obra em três atos que transita entre o psicológico, o social e o metafórico. Mais do que um exercício de gênero, trata-se de uma expressão artística que transforma experiências reais em horror cinematográfico.
Ygor confirmou que prepara para outubro um evento especial que promete revelar “toda a verdade sobre como chegamos até aqui” uma espécie de “exposed artístico”, nas palavras do próprio diretor.
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A equipe da Team Comics teve acesso exclusivo ao curta na última segunda-feira (19). Sufocante, perturbador e claustrofóbico, “Evil” mergulha na complexidade das relações humanas, expondo as sutilezas da manipulação psicológica e levantando questionamentos desconfortáveis: quem é, de fato, o vilão? Quem é verdadeiramente a vítima?
Na trama, ambientada dentro de uma sala de interrogatório, Belial finalmente fala. Sua voz é áspera, carregada de dor e rancor, enquanto revela verdades que ninguém está preparado para ouvir. Sem gritos, sem histeria apenas um silêncio opressor que pesa mais do que qualquer explosão de violência. Aos poucos, os detetives percebem que não se trata de um crime qualquer. Há algo maior, mais sombrio e urgente vindo à tona.
Conversamos com Ygor Monroe sobre o curta, a trilogia, o processo criativo e os limites entre arte, trauma e denúncia.

“Evil” inicia uma trilogia. Como você enxerga a evolução narrativa e estética dos próximos filmes a partir deste primeiro capítulo?
Ygor Monroe:
Curiosamente, esse projeto nasceu de trás pra frente. Eu comecei com o final de uma história que precisava contar, e foi nesse processo que entendi que ela não cabia em um único filme. “Evil” é mais minimalista, mais centrado no diálogo, quase teatral. É um prólogo sufocante, pensado pra que quem assista perceba que existe algo maior se desenhando e que cada obra se sustenta sozinha, mas, ao mesmo tempo, faz parte de um todo.
A estética também reflete isso. É mais crua, mais suja, mais desconfortável. A medida que avançamos para “Do You Like Horror Movies?” e depois “The Narcissist”, tudo vai crescendo em escala, profundidade e desconstrução. É como se a trilogia fosse uma espiral que te leva cada vez mais fundo na mente, no trauma e na percepção de quem somos.
Como diretor e ator, quais foram os maiores desafios em equilibrar essas funções durante as filmagens de “Evil”?
Ygor Monroe:
Foi, sem dúvida, o projeto mais difícil que já desenvolvi. Trabalhar quase exclusivamente no campo do diálogo, segurando a tensão durante 13 minutos sem recorrer a artifícios tradicionais do terror, é um desafio enorme.
Atuar foi um capítulo à parte. Conversei com várias pessoas para interpretar esse papel, mas entendi que ninguém carregaria a carga emocional que eu precisava transmitir. Era necessário que fosse eu. É um filme que exige que eu me exponha por inteiro física, emocional e psicologicamente. No futuro, talvez outras pessoas possam assumir personagens desse universo, mas essa história, especificamente, precisava ser contada pela minha própria voz, no sentido mais literal possível.
Você já tem estruturado o arco completo da trilogia ou deixa espaço para que os próximos capítulos se adaptem ao que surgir deste primeiro?
Ygor Monroe:
Existe uma espinha dorsal muito bem definida. Mas, ao mesmo tempo, a vida é dinâmica, e essa obra também é viva. Originalmente, seria um filme único, mas percebi que minha trajetória estava, de forma quase cruel, dividida em três grandes ciclos representados por três pessoas muito específicas que cruzaram minha vida em momentos diferentes e a transformaram em um verdadeiro filme de terror.
É autobiográfico, mas com uma camada ficcional que me permite elaborar isso de maneira artística. E, sendo honesto, o roteiro também acompanha o que ainda acontece na minha vida. Enquanto essas pessoas seguem existindo, seguem impactando, direta ou indiretamente, a narrativa também se alimenta disso.
Quais são as principais referências que moldaram “Evil”?
Ygor Monroe:
Eu sou muito obcecado por diretores que trabalham o horror de maneira sensorial e psicológica. Ari Aster, Julia Ducournau… são grandes inspirações. Mas o embrião do projeto nasceu completamente embebido na estética e na filosofia do Dario Argento, especialmente na atmosfera do primeiro “Suspiria”. O uso das cores, do som, da tensão que nunca explode… Tudo isso permeia “Evil”, mas sempre buscando a minha própria assinatura, meu próprio DNA visual e narrativo.
A trilogia aborda diferentes manifestações do narcisismo. Existe, de fato, uma linha que separa uma personalidade disfuncional de um verdadeiro vilão de horror, ou essa linha sequer existe?
Ygor Monroe:
Essa linha não existe. O mal, nesse contexto, não é uma entidade externa é humano, é cotidiano, é real. A ideia nunca foi me colocar apenas como vítima, mas como o resultado do convívio com essas figuras.
Todo narcisista, todo abusador, sabe exatamente o que faz, mesmo quando se esconde atrás de máscaras sociais. E nada desconstrói mais esse tipo de pessoa do que ver sua própria maldade exposta, mesmo que metaforicamente. “Evil” não é sobre apontar culpados. É sobre mostrar como o mal opera silenciosamente, como corrói, como destrói. No fim, não existem vilões ou vítimas absolutos. Existem pessoas quebradas algumas que escolhem curar, outras que escolhem destruir.
Você anunciou que prepara um “exposed artístico” como parte da divulgação de “Evil”. Até onde vai o limite entre arte, denúncia e espetáculo?
Ygor Monroe:
Existe, sim, um limite ético, e ele foi muito bem calculado. Nenhuma identidade será exposta de maneira direta. O que está em jogo aqui não são as pessoas específicas, mas os padrões, as estruturas, os comportamentos abusivos.
Usar esse conceito de “exposed” gera desconforto, gera curiosidade, e faz parte da provocação estética do projeto. Não se trata de uma vingança literal, mas de transformar dor em discurso, abuso em narrativa, opressão em arte.
Existe uma carga autobiográfica muito explícita. O quanto esses filmes dialogam com experiências reais?
Ygor Monroe:
Totalmente. É visceral, é íntimo, é cru. Existem coisas ali que só eu, meu travesseiro e alguns terapeutas sabem. “Evil” e toda a trilogia são minha forma de processar, elaborar e, de certa maneira, me libertar.
Acho que o grande dever da arte é exatamente esse: transformar passado em presente, trauma em potência, dor em cura. E, claro, fazer com que quem assista também se enxergue se reconheça, se questione, se proteja.
O terror que você propõe é sobrenatural, psicológico, social… ou tudo isso ao mesmo tempo?
Ygor Monroe:
É tudo isso junto. Porque o mal real não tem uma forma única. Ele pode ser um olhar, uma palavra, um silêncio… Ele pode ser sobrenatural quando você se sente aprisionado em algo que não entende, pode ser psicológico quando te desestabiliza, pode ser social quando se estrutura em dinâmicas de poder.
O mal é líquido. Se adapta. E, por isso, ele é tão difícil de combater.
Existe uma provocação específica que você quer deixar com o público após assistirem a “Evil”?
Ygor Monroe:
Quero que as pessoas entendam que há saída. Mesmo quando tudo parece sem saída. Quero que entendam que todos os sentimentos são válidos e que ninguém tem o direito de apagar a sua luz. Mas também quero que elas entendam que, às vezes, para se proteger do mal, você precisa olhar de volta pra ele. E, se for necessário, se tornar tão forte quanto ele não pra destruir, mas pra sobreviver.
Esse filme não é só uma denúncia, não é só um alerta. É meu caminho pessoal pra cura. De amor pra vingança, de dor pra libertação. E, sim, todo mundo vai saber tudo o que ele fez comigo.
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Já tô ansiosa pra assistir toda a trilogia, parece ser bastante intrigante!!