Saber o que fazer em um filme é primordial para qualidade do mesmo. Seria John Wick uma obra de arte ou um filme de ação superestimado pelos telespectadores?
A apresentação dos personagens se caracteriza como o primeiro ato de um filme, todos eles são detentores disso, porém, o que muda, é a forma com que isso é apresentado aos telespectadores. A obra no seu primeiro ato é contada por seus amigos e inimigos, e nós entendemos dos perigos e do que ele é capaz de fazer só pela fala de outras pessoas, enquanto o próprio protagonista não diz nem uma palavra.
Normalmente, em filmes comerciais, nós acompanhamos isso de forma passiva, ou seja, passamos algum tempo com o personagem e conhecemos ele um pouco mais, isso serve pra a gente se apegar e também a conhecer características próprias dele, o que faz com que aumente a imersão e que a gente embarque numa viagem junto com o protagonista.
Se tem algo que o filme erra é quando usa técnicas repetidas pra mostrar o amor de John por sua esposa, que é mostrando os mesmos flashbacks e o mesmo vídeo no celular dele, o que aparenta uma certa pobreza, parece que a atriz não tinha tempo de gravar mais cenas. Como não é um filme que traz uma reflexão na sua história é normal que os telespectadores não assistam com uma atenção extrema, o que é algo comum nos filmes de entretenimento, repetirem a informação para um possível público desatento afim de pegar essa informação em alguma das vezes, o que faz dessa repetição compulsiva algo cansativo em alguns momentos.
A famigerada motivação de John Wick
A motivação do personagem também é motivo de memes e discordâncias pela internet, já que John, pelo amor que tinha por sua mulher, se apega ao último presente deixado por ela, um cachorro. Depois disso, ele sofre um assalto e no meio dele os assaltantes matam seu cachorro, o que deixa John frustrado, prestes a fazer qualquer coisa por vingança. Mas será que isso carrega uma motivação suficiente pra ele arriscar sua vida a ponto de vingança?
Esse é motivo de “John Wick” não receber nota máxima, é justamente seus exageros citados acima e toda a controvérsia em relação à sua motivação, que às vezes, pode chegar a ser um incômodo já que os exageros deixam tudo mais artificial e dificulta um pouco a nossa imersão com o personagem, isso irá depender muito do telespectador. Eu resolvi apontar esses erros no começo porque, pra mim, são os únicos.
É importante entendermos que os filmes precisam no mínimo cumprir suas propostas, esse é um dos motivos que “Rambo” por exemplo fez tanto sucesso naquela época, e faz até hoje, e por isso teve uma franquia de 5 filmes.
Comparações inevitáveis
John Wick é o novo Rambo. Um novo nome pra o gênero da ação.
Keanu Reeves é o novo Sylvester Stallone, porém não tão novo assim.
Se você já viu alguns filmes do Keanu, sabe que ele não um ator de muitas caras e bocas, não é um cara muito confortável em atuação em si, ele é bem limitado nesse quesito, mas, ainda assim, Keanu foi a escolha perfeita para “John Wick”.
Como eu havia dito lá no começo, a narrativa do filme é contada pela boca de outros personagens. Alguns com medo, outros com certa admiração, e, muitas vezes, sem dizer sequer uma palavra, o que é bom para o Keanu que se expressa corporalmente como ninguém. O filho do antagonista leva um soco do seu “subordinado”, o que nesse ambiente é digno de morte ou no mínimo tortura. Mas quando o vilão questiona o motivo, o funcionário responde prontamente com “O seu filho roubou o carro de John Wick e matou seu cachorro”. A partir daí, o soco parece ser uma punição rasa e o pai chama o filho e o castiga ainda mais.
Essa sequência é um exemplo de como “John Wick” apresenta a dimensão de um personagem. Apenas usando 3 linhas de diálogo, isso é feito perfeitamente, o que é fascinante de ver, já que também não conhecemos John. Isso acontece diversas vezes, mas diferente do começo, eles usam formas diversas de execução. Após esse evento, a polícia vai até a casa de John e vê os corpos caídos.
Criatividade nas cenas de ação
O personagem é tão grande e complexo, que o policial não move um dedo, pois sabe que não poderá fazer nada. Esse tipo de variação e criatividade nos deixa cada vez mais curioso, pois sabemos que o personagem é BADASS. Mas não sabemos o que mais ele é capaz de fazer, o que é o suficiente pra embarcarmos numa jornada com ele.
Dito tudo isso, John Wick ainda se supera no quesito na qual foi proposto, ação. E quando falo John Wick, eu me refiro tanto ao personagem, quanto ao filme.
Consequentemente, as cenas de ação, coreografadas de forma linda e complexa, foi um dos maiores destaques. Basicamente, eles tentaram fazer (e conseguiram, diga-se de passagem) uma coreografia tão linda e fluida para parecer cada vez menos como uma coreografia. Isso foi visto na cena da boate, onde John só olha pro seu objetivo, o seu prêmio: o assassino do seu cachorro, o filho do chefão. Dessa forma, as mortes causadas por ele são rápidas e limpas, para conseguir alcançar seu objetivo o mais rápido possível. Essas são ótimas decisões da direção onde é mostrada na prática um filme e um personagem diferente do normal ao contar o filme de uma forma diferente do normal.
Como ser um filme original e criativo?
No começo, eu disse que John Wick é o novo Rambo. E é. Novo, diferente, moderno, mas ainda com aquela pegada, exército de um homem só com características próprias totalmente originais e genuínas. E, ainda assim, dignas de grandes filmes marcadores de épocas. E com certeza, “John Wick” será um personagem e um filme históricos, assim como Rambo foi e é. Clássicos.
Mesmo com toda valentia, é importante mostrar que John não é indestrutível, que ele é humano como qualquer um, mas mesmo assim diferente. John também sangra, também precisa de cuidados e também precisa de descanso. São coisas simples que nos aproxima do personagem e que aumentam nossa preocupação por ele.
O vilão é totalmente compreensível, não é aquele tipo de antagonista com que nós passamos raiva, ou que temos ódio. É um personagem bem construído e tem um respeito imenso pelo “John”. Mas antes disso ele ainda é pai, ele fará de tudo pra salvar seu filho, mesmo sabendo do erro que ele cometeu. Fazendo dele um vilão com uma motivação super genuína com que não haja julgamento da nossa parte, nem mesmo até do próprio John.
Observações
“John Wick” é um filme de ação que tem pequenos erros e é de uma grandeza extraordinária. Portanto, acabou revolucionando um gênero onde não havia mais nada pra se revolucionar. Fazer John Wick ou qualquer filme de ação inovador é extremamente difícil, porém a franquia fez diferente e o melhor de tudo, com qualidade. Tudo isso, faz de “John Wick” o segundo melhor filme de ação da década (2010-2019), perdendo apenas para Mad Max – Fury Road.
Ficha técnica
Título : John Wick – De Volta Ao Jogo
Diretor: Chad Stahelski
Roteiro: Derek Kolstad
Elenco: Keanu Reeves, Ian McShane, Willem Dafoe, Michael Nyqvist
Gênero: Ação
Ano de produção: 2014
Por fim, não deixe de conferir.