É difícil de acreditar que com 83 anos e filmes como “O Silêncio dos Inocentes” e “Nixon” no currículo, o ator Anthony Hopkins ainda tinha como melhorar. Mas não é que ele conseguiu. Para mim, Hopkins entrega no filme indicado ao Oscar “Meu Pai” a melhor atuação da sua carreira. É impressionante, é de ficar de boca aberta do início ao fim.
Em “Meu Pai” o personagem Anthony (Anthony Hopkins) acaba de demitir mais uma cuidadora e agora é crucial que ele aceite ajuda, já que a sua filha Anne (Olivia Colman) vai se mudar para Paris.
Ou será que ela vai mesmo? Será que ela é casada com Paul? Será que o apartamento em que Anthony vive é dele ou dela? Quem são esses estranhos na sala?
O filme dirigido por Florian Zeller é um retrato fiel da demência. Como expectadores ficamos muito confusos, às vezes até agoniados. É difícil saber o que é verdade ou mentira e ficamos procurando a realidade que Anthony parece ter esquecido.
Sem procurar emoções exageradas, o filme foca no simples. Nos olhares vazios de Anthony que buscam uma referência, na sua tentativa sem sucesso de se conectar com a verdade. É impossível não se emocionar com Anthony e Anne.
Se você já conviveu ou convive com alguém que sofre de demência tenho certeza que irá reconhecer o seu amado em Anthony. A experiência é potencializada quando a realidade da demência é familiar. Situações do cotidiano como trocar de roupa ou fazer um café já não são mais triviais.
A temática é poderosa e o filme poderia assumir um tom melodramático, poderia ter como objetivo fazer a audiência se debulhar em lágrimas. Mas em nenhum momento faz isso.
“Meu Pai” foge do óbvio. Com uma montagem impecável consegue transmitir toda a dor tanto de Anne quanto de Anthony sem ser apelativo.
As cenas se repetem e se sobrepõem e nós vamos ficando mais confusos, enxergando detalhes novos que nem sempre fazem sentido. Como, por exemplo, o relógio de pulso que está desaparecido e a cada passagem é encontrado em um esconderijo diferente. Em baixo da banheira, na mesa de cabeceira ou na gaveta no banheiro. Quando ele está procurando pelo relógio está buscando a sua memória, a sua história, aquilo que um dia fez Anthony ser Anthony. E nós como audiência sentimos isso.
Olivia Colman também dá um show como Anne, seria injusto não dizer isso. É possível sentir a dor de Anne ao ver o seu pai desaparecendo em frente aos seus olhos. O show é de Hopkins, sem dúvidas, mas Colman não fica muito atrás.
O filme concorre em 6 categorias no Oscar: Melhor Filme, Melhor Ator para Anthony Hopkins, Melhor Atriz Codjuvante para Olivia Colman, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Montagem e Melhor Direção de Arte.
Nota 9.