O Conde – O Pinochet vampiresco e gótico de Pablo Larraín

O Conde – O Pinochet vampiresco e gótico de Pablo Larraín

O Conde, o aguardado novo filme do diretor chileno Pablo Larraín chegou ao catálogo da Netflix nesta sexta-feira (15). O processo de criação do filme aliás, esteve envolto em polêmicas. A princípio, a mais pertinente como não poderia deixar de ser, era sobre o uso de uma figura tão cruel na história chilena como a de Pinochet, sendo retratado de uma forma mais branda no olhar de Larraín.

Em O Conde, a história centra-se em Augusto Pinochet, que não está morto, mas é um vampiro envelhecido. Após viver 250 anos neste mundo, ele decide morrer de uma vez por todas.

Quem foi Augusto Pinochet?

Augusto José Ramón Pinochet Ugarte, foi um general do exército chileno e ditador do seu país de 1973 a 1990, servindo posteriormente como senador vitalício, cargo que foi criado exclusivamente para ele, por ter sido um ex-governante. Uma das figuras mais medonhas e crueis da história da América Latina, Pinochet comandou a ditadura chilena com mão de ferro. Não atoa, a ditadura no Chile é considerada a mais violenta ditadura ocorrida por aqui, no período em que o a América do Sul se viu dentro de várias ditaduras nos países que a compõem.

Pinochet, além de mandante de vários crimes durante seu regime, enriqueceu por meio de vários desvios de dinheiro durante seu tempo como ditador. Infelizmente, como em vários outros países vizinhos, Pinochet nunca pagou pelos seus crimes, e morreu de causas naturais, com 91 anos.

É dessa figura que causa inclusive muita divisão no Chile até hoje, que Larraín monta sua história. O diretor basicamente se tornou conhecido por reimaginar a vida de diversas figuras em seus filmes. Como por exemplo, Spencer, seu último filme, e que retrata o natal de 1990 da princesa Diana, e o que teria sido os dias da mesma em Sandringham.

Vale a pena?

Pinochet costumeiramente era visto com sua capa militar, e parece ter sido o ponto de partida nesta reimaginação de Larraín. Começamos o filme vendo que o general vem de uma longa linhagem ainda na França de Luiz XVI, que vem ao nosso continente em busca de sangue fresco. Depois disso, vemos o ditador, já numa idade avançada, vivendo na Patâgonia, e com uma vontade imensa de morrer. A trama do filme se desenvolve a partir da chegada dos filhos do ditador e de sua esposa Lúcia Hiriart.

O longa tem um trabalho de fotografia em preto e branco que é um charme a parte, além das tomadas aéreas do ditador exercendo voo que são de puro deleite. Ademais, tudo isso somado a atuação única de Jaime Vadell, que encarna o personagem por inteiro, e com olhares transmite toda a confusão e visão daquele mundo e dos seus arredores que o ditador passa. Por falar em esposa, Gloria Münchmeyer é única como Lúcia Hiriart, e para quem conhece um pouco da dinâmica de algumas ditaduras que ocorreram por aqui, as esposas dos ditadores eram as únicas pelas quais os tirânos baixavam a cabeça.

Münchmeyer e Vadell são lendas do cinema chileno, tendo ambos trabalhado em várias produções de renome local. E ver os dois tão bem aqui, é o que vale no filme. Porém, a forma como Larraín trabalha a simbologia e o significado de Pinochet para o Chile são até problemáticos em certa medida. Isso sem falar em sua falta de atenção para o desenvolvimento de personagens secundários que é evidente.

Conclusão

Larraín tende em O Conde ir mais para uma idéia de negacionismo do que Pinochet fez, e isso incomoda, e o final do longa deixa ainda mais em aberto qual a visão do diretor sobre o vampiresco Augusto. Além disso, o filme acaba por parecer muito mais Spencer (também de Larraín), e as vezes passa a impressão que a comédia não dialóga muito com a ideia geral do filme. Outra semelhânca com Spencer inclusive está na trilha sonora, que mistura um ar sombrio em músicas barrocas, e dita os passos de muita coisa ali.

Por fim, eu gostei de todo o tom satírico do filme, e a escolha de Larraín por retratar isso por meio do vampiro, a torna mais cativante. Afinal, ditadores surgem usando o máximo de sua carisma, e ”sugam” seus apoiadores com esse mesmo carisma. Além disso, o filme de Larraín, aliado ao elenco e a fotografia de Edward Lachman, transforma essa sátira com toneladas de humor negro, num bom filme, mesmo ele causando certa controvérsia entre muitos setores da sociedade chilena. O gosto por sangue do ditador só não é maior que o seu gosto por dinheiro, nisso o trabalho do filme foi certeiro. O final desta história entretanto, é o ponto que mais distoa do resto do filme.

Trailer de O Conde, já disponível na Netflix

Avaliação: 3 de 5.

Ficha Técnica

Direção: Pablo Larraín
Roteiro: Pablo Larraín, Guillermo Calderón
Duração: 110 minutos
País: Chile
Gênero: Fantasia, comédia, história
Ano: 2023

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