Todos Nós Desconhecidos é um filme que está além da questão da orientação sexual, você pode entender os dilemas daqueles personagens que estão em tela e também é uma experiência imersiva.
Pode se dizer que conforme os anos se passaram o a indústria audiovisual visual viu com olhos bem comerciais, algo destinado ao público LGBTQIA+, como uma maneira apenas de atrair esse público entregando um material pra lá de questionável, o que não é o caso.
Porém vem sendo cada vez mais respeitado por filmes ou séries que respeitam as minorias, e tragam com naturalidade suas histórias e até interesses amorosos, e trazendo não só histórias que vão além do esteriótipos de que tramas destinadas a este público só são aquelas nas quais eles sofrem, mas de construir as vezes genuinamente trazer uma história de amor, família, sobre autoconhecimento.
Não é necessário ser alguém que se enquadre no grupo LGBTQIA+ para apoiar uma causa, seja sobre qual minoria for, você pode ter empatia, e se botar no lugar do próximo e saber que essa inclusão é de grande importância.
A obra Todos Nós Desconhecidos, sofreu infelizmente novamente com a péssima gestão de janela de lançamento, principalmente pois ele não é um filme de grande orçamento, e está cada vez mais difícil de vermos filmes assim bem posicionados no Brasil, sem que percam infelizmente o timing.
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O longa metragem se passa em Londres no qual vamos acompanhar o cotidiano de Adam (Andrew Scott) um escritor solitário que a medida que a trama se desenvolve ele conhece Henry (Paul Mescal) o quão sempre o observa, até terem um encontro, no qual essa união marcará sua vida.
Parte Técnica
A estética é mais conceitual, então possui muitos momentos sem diálogos, ou que as vezes utilizando de ângulos diferentes para passar o sentimento em cena, a bastante cenas contemplativas, que servem como um respiro ou para pensarmos.
O longa possui uma fotografia que utiliza de tons mais crus, os pastéis em cena, pois o filme a uma certa ar angustiante, pois se passa sobre a perspectiva de Adam, às vezes muda para tons neons, e dizem também muito sobre a sensação que os personagens estão sentindo naquele momento, excitação, dúvida, entre outros, passando também por um estilo que parece que você está assistindo memórias de alguém, trabalho excelente seja da direção Andrew Haigh, ele consegue transpassar com naturalidade sobre aqueles personagens.
A direção de fotografia é importantíssima aqui, pois como eu falei ela representa ou momentos para nos telespectadores que estão acompanhando se aproximar dos personagens e também passar a sensação de estar na pele daqueles personagens como momentos para reflexão.
A fotografia do filme foi feita por Jamie D Ramsey, ele quer que a mensagem seja bem clara ao trazer beleza, ou desconforto na tragédia, como disse os ângulos e as cores dizem muito a respeito dos sentimentos dos personagens em cena.
O Diretor também soube conduzir muito bem a intimidade dos personagens, trazendo bastante naturalidade nas cenas, seja numa cena de carícias, olhares ou até momentos mais calientes com os protagonistas são muito bem conduzidos, cenas inclusive que deixariam o Luca Guadagnino orgulho, pois o diretor sabe também como trazer excitação, e manipular as emoções do público assim como o diretor.
E os atores?
A interpretação do Andrew Scott nos apresenta um personagem que é bem contido, que incialmente parece desencaixado dos lugares e que possui uma dor interna, que pra mim deixa claro a solidão do personagem, ele encontra conforto no seu vizinho Henry, eles tem um encontro casual que os aproxima.
A figura do Henry por exemplo é uma figura que seduz, seja pelo toque seja pelo olhar novamente um atuação ótimo de Paul Mescal, já demonstrou ser talentosíssimo no arrasador Aftersun, e ele demostra querer se aproximar do nosso protagonista, saber mais dele.
Continuando…
A montagem faz parecer que prédio onde mora vira seja praticamente um personagem uma vez que amplia e demonstra como se houvesse uma barreira entre o personagem de Adam, ampliando ainda mais essa sensação de solidão.
Embora o tom do Filme seja um drama, a momentos para risada na trama, e até em diálogos simples como um momento do filme do qual Adam explica que hoje é difícil falar a palavra ser gay, pois em tom humorado é praticamente uma ofensa, e Henry discorre que os estereótipos utilizados pelas pessoas, etc.
O filme também aborda sutilmente sobre como é ser homossexual, Adam em uma cena com a sua mãe, interpretada pela Claire Foy, na qual demonstra desconhecimento sobre outras sexualidades, e isso causa um certo desconforto em cena, pois o protagonista está desconfortável, embora pontue como é normal, a mãe é praticamente um retrato da sociedade, que possui certos achismos da qual não condiz com a realidade.
A busca por um aconchego, um abraço quando se sente que a sua vida solitário, a buscar sobre ter alguém que seja importante para sua vida, que te faça se sentir especial único, muitas vezes possuem uma conexão surreal com alguém, ela marca sua vida, é uma experiência que te faz sentir seguro, amparado, as memórias que tiveram com aquela pessoa, de momentos felizes, e mesmo quando se havia brigas, logo estavam juntos novamente.
Porém muitas vezes essa memória feliz se torna uma memória infeliz dado que nem sempre nos estejamos preparados para como uma memória feliz pode não levar a lembrança daquilo que foi bom.
Saber como lidar com as cicatrizes deixadas, de seguir em frente depois de alguém chegar em sua vida e marcar assim, cada vivência que temos é de uma forma, mas as vezes aquela pessoa marca tanto em nossa vida, que é difícil sentirmos bem com nós mesmo.
A culpa que as vezes sentimos de poderia ter sido diferente, ou se soubéssemos que poderia ser rápido ou passageiro, traz o sentimento deriamos ter aproveitado mais a vida ao lado daquela pessoa, seguir em frente não será uma tarefa fácil, mas devemos estar abertos que jamais devemos nos basear nela sobre novas experiências.
A necessidade do recomeço, e se perdoar entender que a culpa não é sua, e que embora a experiência e sensação jamais possa ser a mesma, é necessário seguir em frente, e isso é um pouco do que o filme traz.
Eu fiquei impressionado quando vi o filme ano passado, com a qualidade da história, da atuação e da parte técnica e também de como cada vez mais possuímos bem realistas ao que se propõem trazendo naturalidade aos temas importantes debatidos, sejam aqueles relacionamentos, paternidade, saúde mental, a nossa sexualidade e até nossas memórias sejam de um tempo ruim ou de boas memórias.
A trama humanizada é muito real, nos aproxima e nos faz refletir sobre nós mesmos, nos precisamos de filmes assim as vezes também que seja um reflexo da nossa sociedade, pois abre margem para questionar ou até melhorar algo em nossa vida.
Na vida a momentos que você precisa de filmes blockbuster para passar tempo, e desligar o cérebro, mas também tem aqueles que são feitos para serem contemplados como é o caso deste filme, principalmente pois é preciso apoiar boas histórias com substância as vezes também.
Devemos apoiar produções independentes, pois elas são um refresco muitas vezes no mar de mediocridade do atual cinema, e também para que haja novas histórias e formas de se contar no cinema.
Uma boa direção, um bom roteiro com uma história bem cativante e bem feita, atrai público independente de ser ou não milionário, além do fato de aumentar o leque de opções de filmes variados.
O roteiro é traz um retrato fantasmagórico mediante memórias, muito bem desempenhado pela mãe (Claire Foy) e pai (Jamie Bell) dando conselho e aconchego, além do fato de ter momentos dos quais servem como uma despedida, uma vez que não foi possível que isso acontecesse com a figura de Adam.
O filme foge do escopo de esteriótipos destinado a certas obras LGBTQIA+, consolidando uma experiência ótima de representatividade, de se assumir e se sentir bem com isso, principalmente quando se tem alguém em sua vida, e que pode ser você mesmo, sem precisar omitir é belo.
A película transita entre o cult, o romance, e o suspense, sem perder seu objetivo, embora pelo teor mais “cult” talvez não agrade a todos, mesmo aqueles que também não são o público destinado.
Conclusão
A história se trata sobre a solidão, o amor, os traumas, o desconforto, e as redescobertas, e o filme é uma adaptação da obra Strangers de Taichi Yamada e também fica claro que tem influências do que foi vivido pelo próprio diretor transposto na produção. É triste ver que esses obra não conseguiu nenhum reconhecimento, nem que fosse para uma única vaga para alguma categoria, embora esse ano foi uma temporada acirrada.
Trailer do Filme
Ficha técnica
Título Original: All of Us Strangers
Direção: Andrew Haigh
Duração: 105 minutos
País: EUA
Gênero: Drama
Ano: 2023
Classificação: 16 anos
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