Já é nítido que nós estamos vivendo a era da exploração nostálgica pela TV. Já tivemos o “revival de ICarly”, o de “How I met your mother”, o de “Gossip girl”, e agora nós fomos agraciados com Bel-air, a nova série que faz um reboot de sua obra originária, “Um maluco no pedaço”, uma das sitcoms mais famosas da história da televisão.
Todavia, diferente dos demais projetos supracitados, Bel-Air consiste em uma completa releitura de seu produto originário. Enquanto as demais séries lançam novos episódios que possuem novos personagens, mas mantendo o tom da obra original, A série da Star Plus “Bel-air” retrabalha todos os aspectos da sitcom da década de 90, transformando tal comédia situacional em um drama familiar. Uma estratégia ousada, pra dizer o mínimo.
- “Vampiro no jardim” – Anime da Netflix é lindo
- ‘Tico e Teco: Defensores da Lei’ – Mantém essência dos desenhos
- ‘Juvenile Justice’ (Netflix) – Vilões ou vitimas?
A ousadia da ideia
De antemão, devemos parabenizar os idealizadores de Bel-air por terem a coragem de quebrar a sua fórmula original em prol de um projeto mais subversivo, isso por si só já torna o produto muito mais instigante que os demais reboots que estão sendo lançados aos montes.
Por incrível que pareça, a ideia de dar um tom mais dramático à narrativa funciona bastante. O enredo se distancia das aventuras mirabolantes que Will vivia na comédia original (Um Maluco no Pedaço) e opta por focar nos problemas pessoais da família Banks e nas dificuldades de relacionamento entre eles.
E alguns dos problemas enfrentados pela família Banks são extremamente impactantes, e dão uma carga de realismo que a obra original raramente conseguia. Problemas estes que não se limitam ao racismo e a desigualdade, como também a questões ligadas à vícios, sexualidade, independência, violência urbana e afins. E todos eles combinam com o tom do seriado e impactam bastante o espectador
Entretanto…
Mirou em drama, acertou em novela
Enquanto a ideia é ótima, a execução possui muitas falhas.
Os produtores miraram em um drama sobre a família Banks e Will, mas acertaram em uma novela das 9 da Rede Globo. E esse aspecto novelesco permeia toda a obra, desde os diálogos, que carecem de sutileza e transbordam artificialidade e expositividade, até as performances, que descartam quaisquer nuances. Todas os intérpretes de Bel-Air atuam de forma caricata e exacerbada. Toda emoção é transmitida em sua máxima potência, desde a raiva até a tristeza, e a forma com a qual eles dizem seus diálogos evidencia a teatralidade em que estes a todo momento impõem a seus maneirismos. Por vezes parecia até que eu estava vendo Senhora do destino de tão exageradas que eram as atuações
E a linguagem de câmera desse reboot também não contribui. Não é inovadora, não é imersiva, não empolga e não intriga
Básico do básico da filmagem. Plano geral, plano médio, plano fechado, e shot reverse shot. Às vezes tem uma cena bacana tipo a da piscina no episódio 1, mas a maioria é lugar comum, contribuindo assim com o tom novelesco
E eu também senti que o último episódio destoa demais dos seus 9 antecessores. Todos os conflitos iniciados na temporada se resolvem no capítulo 9, mas o season finale faz questão de introduzir uma nova problemática que só irá se solucionar na temporada seguinte, nos deixando assim com um cliffhanger desnecessário e artificial.
Conclusão
Bel-air é uma ideia excelente executada de uma forma ruim. No fundo dessa proposta existe uma ótima série, mas eles insistem em cavar usando as mãos, assim mal passando da superfície do potencial da trama.
Vamos torcer para que na próxima temporada eles comecem a usar uma pá. Ou seja: Parem de achar que essa série é uma novela, invistam em roteiristas mais criativos, treinem seus atores para serem mais sutis em suas performances e elaborem os núcleos narrativos de uma maneira mais coesa e orgânica
Ou seja: Mirar menos em Rebelde e mais em This is us
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