Garra de Ferro constrói sua narrativa a partir do peso familiar e o poder dos traumas

Garra de Ferro constrói sua narrativa a partir do peso familiar e o poder dos traumas

Se fossemos falar de grandes esnobes do ano, Garra de Ferro estaria entre o topo com certa vantagem. A odisseia da família Von Erich é destrinchada pelo diretor Sean Durkin, que traz a tona o horror da pressão familiar, de ter sua vida moldada desde jovem, e a até que ponto um homem está disposto a realizar seu sonho, mesmo que por meios externos.

E Garra de Ferro poderia cair naquele clichê já conhecido das cinebiografias, mas Durkin tem uma direção tão pontual e assertiva, que o filme cresce a cada ato. E para quem é um assíduo fã de pro wrestling (como é o caso desse que vos escreve), o filme é um prato cheio de referências e situações que uma empresa do ramo acaba passando.

Além disso, é uma pena que Garra de Ferro tenha tido uma campanha tão fraca na temporada de prêmios. Não só pela atuação da vida do ator Zac Efron, mas pelo elenco de apoio do filme, que consegue se colocar no mesmo peso que Efron ao decorrer do longa. E Sean Durkin tem um peso impar neste processo, pois ao optar por manter o filme nos eixos, sem grandes tramoias, o diretor extrai o melhor de todo o elenco.

A família Von Erich

Se você não costuma acompanhar pro-wrestling, ou a famosa luta-livre, o filme pode acabar se tornando por vezes algo enfadonho. Mas é ai que reside a grandeza do longa, este enfadonho acaba sendo muito mais um estudo dos indivíduos que ali estão, acrescentando camadas a trama do filme de Durkin.

E como já citado, Garra de Ferro é um filme que poderia acabar indo pelo clichê, pois elementos não faltam. A família Von Erich, pelo menos nos EUA, sempre acaba tendo sua trágica história recontada por algum jornal, ou tabloide. Porém, os feitos da família raramente costumam ser lembrados, e para os entusiastas do esporte, isso é incômodo.

E ai reside outro feito de Sean Durkin, o diretor opta por explorar essa trágica história por fora. Sempre olhando como as influências afetaram a vida da família, e as conseguintes decisões de cada filho de Fritz Von Erich. Afinal, estamos falando da fama, e no pro-wrestling, ela não se difere em nada do que ela costuma trazer em outros segmentos.

A opção mais humana para lidar com tudo que ocorre na família, torna Garra de Ferro um bom drama familiar, que explora muito bem todas as facetas, que uma vida controlada por uma figura maior, acabam gerando nos que orbitam ao redor.

Vale a pena?

‘Garra de Ferro’ poderia ir muito bem pelo caminho das inúmeras cinebiografias lançadas nos anos recentes. Que buscam apenas o lado midiático do biografado, sem nunca explorar de fato a pessoa. O filme de Sean Durkin parte de outro pressuposto: O de vencer a qualquer custo. E Durkin trabalha essa ideia em cada take. O patriarca dos Von Erich, Fritz, vívido formidavelmente por Holt McCallany, é a figura de controle, sempre presente na vida dos filhos, seja da forma certa ou errada. Fritz mostra não ter ligação com quase nenhum dos seus filhos, fato que fica escancarado quando ele não abraça os filhos durante quase todo o filme. Apenas os verbetes militares ditam as relações entre o pai e os filhos.

E Fritz, um grande lutador dos anos 50 e 60, que nunca conseguiu um título mundial de prestígio, coloca a esperança de ter seu sonho realizado na vida dos filhos. E Durkin, ao captar isso de forma tão pessoal, misturando uma trilha sonora oitentista, com uma luxuosa captação de cenas no ringue coloca camadas sobre essa tragédia familiar. Tragédia essa, que para Fritz, é apenas um teste de Deus, o que apenas nos mostra o quão louco era o pensamento do patriarca da família.

‘Garra de Ferro’ é aquele filme que, mesmo sem você ser antenado na luta-livre, vai te conquistar de alguma forma. E é uma pena o filme não tenha tido tanto reconhecimento como merecia. A tragédia familiar de Sean Durkin não só convence, como questiona o tradicional quote da ‘família americana’ tradicional, que busca o triunfo apesar dos percalços. Talvez o diretor tenha feito o melhor filme sobre luta-livre, e de quebra, deu a Zac Efron sua chance de sair do esteriótipo de ator adolescente.

Trailer do filme

Avaliação: 4 de 5.

Ficha Técnica

Direção: Sean Durkin
Roteiro: Sean Durkin
Duração: 132 minutos
País: Estados Unidos
Gênero: Drama, biografia
Ano: 2023

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