O Menu é provavelmente o filme mais corajoso da temporada. Sua história intensa e caótica, somada às suas críticas constantes à indústria do entretenimento e seu humor extremamente ácido formam uma combinação de ingredientes ímpar que dá à obra uma individualidade surpreendentemente admirável.
Todavia, da mesma forma que ele é o longa mais corajoso, ele também é o mais cínico da temporada. E quando eu digo cínico, eu digo no sentido literal, relativo à hipocrisia e à falta de auto conhecimento.
E eu lhes explico por quê:
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Os demônios da arte moderna
O Menu tem como tema principal o estado da arte contemporânea. Ao longo de toda a sua duração, a narrativa foca em traçar críticas veladas à vários de seus personagens, que representam cada um uma caricatura de algo que está errado com o mundo artístico hoje em dia.
E nessas caricaturas é onde reside o brilhantismo do filme. Os roteiristas conseguiram, por meio delas, de uma forma extraordinariamente simplista e eficiente, transparecer tudo o que eles julgam estar errado com o entretenimento.
E sinceramente, muito provavelmente o espectador irá se identificar com as atitudes de alguns desses personagens, o que dá uma natureza introspectiva única para esta produção.
Eu, na minha condição de alguém que escreve sobre cinema, vi muito de mim refletido nas atitudes do personagem principal e da crítica gastronômica. No primeiro eu vi a minha arrogância que achar por vezes que eu entendo mais de um assunto que profissionais da área, e na segunda eu vi a minha necessidade de externar constantemente meus pensamentos de forma complexa somente para transparecer uma suposta inteligência.
Mas apesar do brilhantismo do longa ao usar de seus atores e roteiro para traçar comentários sobre a arte em si, ele infelizmente acaba por vezes soando um pouco hipócrita.
Cinismo e Hipocrisia.
Uma das críticas que O Menu faz é relacionada a como o meio artístico se preocupa mais em aparentar profundo do que realmente ser. O teor da mesma envolve explicitar que por vezes algo mais simples e ordinário vale mais do que algo sofisticado e complexo.
Mas o próprio filme cai nessa armadilha durante a sua duração. A cena da tesoura, por exemplo, parece mais um crítica vazia do que algo que a narrativa almejava ou necessitava contar. O momento é obviamente válido, haja vista que tal situação infelizmente é deveras verossímel, mas ele não orna com o restante da produção, e me soa mais como um momento independente para criticar algo aleatório do que construir um evento que faz parte do tom do filme.
Outrossim, o longa-metragem por vezes parece se achar mais surpreendente do que ele verdadeiramente é. Na cena do sous-chef, tanto o diretor quanto os roteiristas construíram o momento como algo impactante e totalmente imprevisível. Mas no meio dela eu já sabia o que ia acontecer e qual analogia ela queria transparecer. Nada sutil tal evento aliás, parece mais algo criado mais para chocar do que para traçar uma opinião velada. Tal qual a cena da tesoura.
Sinceramente, o que vi foi uma obra que visava criticar o pedantismo que odeia a arte moderna, mas que por vezes mergulha de cabeça no mesmo e esquece que tem teto de vidro.
Em conclusão
Sinceramente? O importante é que as críticas que O Menu traça são válidas, eficazes e muito corajosas, haja vista que ele está questionando não só o ambiente cinematográfico o qual ele está inserido, como também o seu público e os seus realizadores.
E quando somamos tal coragem dos idealizadores da produção às performances ímpares dos intérpretes (em especial a de Ralph Fiennes, que foi totalmente ignorada pela academia) e você tem um brilhante retrato do entretenimento contemporâneo.
A questão da hipocrisia e do pedantismo me pega um pouco, mas o restante é tudo genial.
De longe a película mais injustiçada da temporada de premiações.
Ficha Técnica
Direção: Mark Mylod
Roteiro: Seth Reiss e Will Tracy
Duração: 107 minutos
País: Estados Unidos da América
Gênero: Drama e Suspense
Onde assistir: Star +
Ano: 2022
Classificação: 16 anos
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