NÃO HÁ IDADE PARA SE REALIZAR SONHOS
Todos nós nascemos com um sonho, um objetivo. Os mais comuns: ser um jogador de futebol, ser um presidente, um médico, um astronauta. O tempo passa, as vezes tomamos outros rumos e não nos permitimos mais sonhar. Entretanto, o que o filme Astronauta – Um Sonho Extraórdinário nos mostra é que não há idade para se realizar sonhos, tampouco para não correr atrás deles.
A ficção dirigida e roteirizada pela atriz e diretora Shelagh McLeod nos apresenta a história de Angus Stewart, um viúvo solitário que, mesmo contra sua família, apesar do apoio de seu neto, decide inscrever-se num sorteio em busca de um bilhete dourado. Que neste caso é uma ida ao espaço. Levado contra sua vontade a um asilo, lá Angus encontra forças e apoio necessário para se envolver nessa empreitada. Ao passo que a necessidade financeira também torna-se uma questão. Uma vez que Angus precisa vender a casa e outros bens por problemas na família. Tudo isso atrelado ao antigo sonho deste senhor de 75 anos de viajar para o espaço.
Interpretado de forma segura e cativante pelo experiente Richard Dreyfuss (Tubarão), o personagem Angus sofre todo tipo de pressão e abandonos possíveis, exceto de seu neto Barney (Richie Lawrence). Desde a pressão por seus problemas de saúde e financeiros, ao abandono no asilo. É importante apontar que não só o protagonista vive pressionado, como também sua filha (Krista Bridges) e seu genro (Lyriq Bent). Uma psicologicamente, o outro financeiramente. Porém, Angus é um personagem que não se abate, apesar de seus traumas. Isso o faz persistir e sempre correr atrás dos seus sonhos. Mesmo com tudo conspirando contra.
O roteiro toma o cuidado de acrescentar elementos que dificultem a jornada de Angus. A ponto de mudar drasticamente a história em seu segundo ato. Quase que abandonando a premissa do filme. Esse abandono da história dá um ganho ao filme pois não o torna tão decifrável. O roteiro também faz com que Angus sofra poucas mudanças ao longo da trama, mas que, em compensação, o protagonista faz com que os demais personagens a seu redor sofram essas mudanças. E aqui temos um ponto interessante a se pensar, até porque Angus já carregava esse sonho de ir para o espaço consigo há muito tempo e as pessoas ao seu redor não davam a atenção devida a este sonho. Ou seja, agora é a vez das pessoas reconhecerem e legitimarem esse sonho. Permitirem junto ao Angus.
E é também nesse ponto que a família tem um papel importante em Astronauta – Um Sonho Extraórdinário, pois servem como uma ajuda a Angus no meio das incertezas e dos possíveis “nãos” que o personagem poderia sofrer. Para além disso, a família gira em torno do protagonista. Uma vez que seus problemas atrelam-se ao sonho de Angus. Tudo isso vem a somar na ideia do roteiro de abordar um pouco a solidão a qual os idosos são submetidos. Quando abandonados e privados do cuidado.
Entretanto, é um roteiro muito seguro e que, em alguns momentos perde a mão. Principalmente ao repetir alguns elementos, como a metáfora do cometa por exemplo. Tal repetição, subestima demais o espectador da obra. Colocando-o todo momento a ter que ver a ideia do cometa na qual o roteirista se apegou. Outra questão incômoda são alguns dispositivos de roteiro que são utilizados para que a obra aconteça. Algumas vezes sem uma preocupação com a verossimilhança. Como exemplo, personagens falando suas ações ou explicando algumas coisas para o público em voz alta. E na voz de alguns personagens que não faz sentido sair.
A direção de Shelagh McLeod e a fotografia de Scott McClellan, igualmente seguras, lidam bem com o clima gélido dos cenários. Clima esse que se assemelha com o gélido que cerca o psicológico do personagem. Os planos captam bem as emoções dos personagens e as situações a que são submetidos. Com destaque, apesar das repetições, aos efeitos especiais do cometa. Desde o início muito verossímil.
Com isso, temos uma obra segura, que cativa e que é objetiva em seu foco. Astronauta – Um Sonho Extraórdinário se desprende de sua premissa quando necessário, trazendo um ganho a história. Mesmo perdendo o equilíbrio em alguns momentos e com repetições que subestimam o espectador. Dessa forma, mostra ao público uma mensagem de que é possível continuar a sonhar. Independente de sua idade, ainda é possível realizar sonhos.