Nyad é mais uma caricatura de si próprio, do que um drama com alguma profundidade

Nyad é mais uma caricatura de si próprio, do que um drama com alguma profundidade

As cinebiografias hoje, sem dúvidas são grandes armas secretas de vários estúdios mundo afora, para obter grandes lucros. Apesar de sempre terem feito parte da história do cinema, é impossível negar que hoje, elas se tornaram a galinha dos ovos de ouro em vários casos. E no meio de tantas cinebiografias, dos mais diferentes personagens do mundo, emerge Nyad, produção da Netflix, sobre a nadadora Diana Nyad.

As várias biografias que o cinema trouxe para o mundo, geralmente não conseguem obter um grande agrado de quem está vendo. E não é de e surpreender que o gênero costuma trazer grandes bombas para a grande tela. E Nyad nada de braçada nessa mediocridade biográfica. Apesar dos esforços do casal de diretores Jimmy Chin e Elizabeth Chai Vasarhelyi, o filme não consegue extrair nenhuma fagulha de interesse mais profundo nos biografados.

No longa, acompanhamos a nadadora americana Diana Nyad (Annette Bening), e sua tentativa de se tornar a primeira pessoa a completar uma viagem de 161 km em 53 horas, de Cuba à Flórida em pleno alto mar. A atleta de 60 anos, é auxiliada por Bonnie Stoll (Jodie Foster) sua melhor amiga e uma equipe de 35 apoiadores dedicados, e pretende nadar através de águas-vivas venenosas e águas infestadas de tubarões para completar sua missão, ultrapassando todos os limites e mostrando sua capacidade para os que duvidaram dela.

Polêmicas

Um primeiro ponto importante, e que merece ser falado, é que o feito de Nyad até hoje gera debate. E não estamos falando de algo feito no século passado, não, isto é de 10 anos atrás. Para quem não sabe, o feito da nadadora retratado no filme, até hoje não é reconhecido pela Associação Mundial de Nadadores em Mar Aberto. Os diretores do filme chegaram a falar sobre a razão desta parte da história não estar no filme, justificando que não era o foco. Porém, o motivo da dúvida é extremamente válido, Nyad é uma pessoa de gênio forte, que já chegou a exagerar no feitos que conseguiu.

O motivo para o não reconhecimento neste caso, é o questionamento em torno do nado sem assistência. A nadadora insiste em registrar o feito como sem assistência, o que a associação entende que houve. Entretanto o fato que mais gera debate, é que aproximadamente 9 horas do trajeto não foram documentados, o que gera inúmeros debates e teorias, inclusive pelo aumento de velocidade que a andadora teve em determinada parte do trajeto.

São pontos que faltaram, e muito no filme, especialmente numa obra que por horas, carece de alguma história com mais profundidade e análise. Ora, se é apenas para celebrar e comemorar o feito, um documentário era mais recomendado. E esse clima de uma biografia ”chapa-branca” é triste, levando em conta que são dois cineastas talentosos, conhecidos pelo bom trabalho em documentários inclusive. Então a abordagem aqui talvez tenha sido errônea, mas é uma opinião que pode variar de pessoa para pessoa.

Vale a pena?

Bom, Nyad acabou surpreendendo muita gente nesta temporada de prêmios, em minha visão de maneira surpreendente. O longa da Netflix é curiosamente, um Oscar bait até mais trabalhável do que Maestro, também da rede de streaming. Temos uma atuação ok de Annette Bening, a tradicional história de superação dos limites, e que os votantes de premiações adoram. Entretanto, essa simplicidade na história e roteiro de Nyad, são o seu grande ponto fraco. Não é preciso nem de 20 minutos de filme, para ele cair numa caricatura de si mesmo. E o casal de diretores se esforça ao máximo para o filme ter algum ponto funcional.

Ainda é estranho notar, que o casal de diretores, acostumados a fazerem documentários sobre esportes radicais (como Free Solo), não sabem se querem contar a história no formato que ambos já conhecem, ou contar um drama tradicional. A segunda opção foi a escolha, mas apesar do esforço de Bening e Jodie Foster, o filme naufraga um pouco em cada ato.

Quase nada no filme é digno de nota, além disso, o filme descarta totalmente a opção de trabalhar num background de ambas personagens. Sabemos que Nyad foi vítima de abuso quando tinha 13 anos, mas o filme deixa isso quase como uma nota de rodapé. Enquanto Bonnie (Jodie Foster) quando é lembrada como importante parte da vida de Nyad, é apenas naquela forma de camaradagem, uma ou duas falas apaixonadas e está tudo bem. O trabalho de personagem aqui é inexistente. E nem falamos aqui da montagem, que alguns momentos se perde. E nem vamos falar das cenas de flashback, que deixariam qualquer novela mexicana em espanto.

O feito de Nyad é de se aplaudir, apesar das contestações, o que ela fez, e na idade em que fez, é surreal. Mas se o filme tivesse talvez olhado em todo o processo de polêmicas, do passado de ambas mulheres, algo de mais proveitoso iria sair do filme. No fim, Nyad soa mais como um King Richard 2.0, do que um longa que tinha alguma ambição de explorar uma personagem complexa, e construir uma boa narrativa com isso. Teria sido melhor ter feito um documentário…

Trailer de Nyad (Netflix)

Avaliação: 2 de 5.

Ficha Técnica

Direção: Jimmy Chin, Elizabeth Chai Vasarhelyi
Roteiro: Julia Cox, Diana Nyad
Duração: 121 minutos
País: Estados Unidos
Gênero: Drama, biografia
Ano: 2023

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