Esta é uma crítica de Memórias de uma gueixa, filme do diretor Rob Marshall vem fazendo sucesso no streaming da Netflix, figurando entre os mais assistidos da plataforma na última semana. Mas será que tamanho sucesso é merecido?
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A magnificência técnica e visual
Memórias de uma gueixa é um deleite para os olhos. A fotografia desta película é uma das mais estonteantes que eu já vi no cinema moderno. O visual do Japão colonial, a atmosfera oriental, a mescla de diferentes tons e cores, o contraste da protagonista com o ambiente… É realmente uma obra-prima
Todas os atores estão excelentes. Desde os mais veteranos até o elenco infantil. Com destaque para as performances de Ken Watanabe e Michelle Yeoh, que novamente mostraram porque são lendas do cinema oriental
Além disso, a trilha sonora e as coreografias do longa são magníficas. A cena de dança de Sayuki é uma das mais belas que eu já vi. O casamento perfeito entre som, estética e movimento. O magnum opus desta obra
O enredo também possui méritos. A jornada e a persona de Sayuri comovem bastante o espectador, e a história de seu amor juvenil pelo empresário que conheceu quando era jovem também é bem contada até certo ponto. Todavia os problemas da produção residem justamente neste interim
O romance problemático
O fato do foco da narrativa do filme ser a paixão que uma criança desenvolveu por um adulto é, na minha concepção, extremamente problemático. Se isso já foi estranho em Star wars, em que uma criança se apaixona por uma adolescente, imagina aqui em que uma criança se apaixona por um adulto de 30 anos
Aliás, toda a cena em que os dois se conhecem é extremamente desconfortável. A forma com a qual é filmada, somada à performance de Watanabe e o diálogo entre os dois personagens dão ao encontro um teor desnecessariamente amoroso e tomado de insinuações afetivas. E o final do filme só piora esta cena com uma certa revelação.
Além disso, o terceiro ato como um todo é muito tedioso. A narrativa atinge seu clímax no fim do segundo, e isso torna tudo a partir dali extremamente anti-climático. Mas independentemente disso, o filme termina com um saldo positivo, e que com certeza vai agradar e emocionar seus espectador. Entretanto existe um problema com tal experiência, ela é falsa e mentirosa
O desrespeito às gueixas
Por melhor que a produção seja, a forma distorcida e desrespeitosa que eles tratam a figura da gueixa dá um caráter cínico e enganador à história do longa.
A obra se baseia no livro de mesmo nome do autor Arthur Golden, que por sua vez baseou sua história na vida de Mineko Iwasaki, uma das gueixas mais famosas do Japão no século passado
Mas o problema é que Golden distorceu inúmeros relatos e histórias de Iwasaki, retratando falsamente a vida das gueixas como algo regado de tragédia, sofrimento e luxúria. E ainda por cima mentiu sobre inúmeros fatos e características da vida das gueixas, tendo inclusive afirmado de que estas vendiam a sua virgindade, insinuando assim que elas eram uma espécie de prostituta de luxo.
Mineko, logo depois de ler o livro, processou imediatamente o autor por difamação e calúnia. Todavia os produtores obviamente ignoraram tal fato e fizeram uma obra 100% fiel ao livro, tornando-a tão desrespeitosa quanto o produto originário
Memórias de uma gueixa tem muitas qualidades cinematograficamente falando. Mas no aspecto moral e cultural, ele é uma afronta à sociedade e os costumes orientais
Ficha Técnica
Criado por: Robin Swicord, Akiva Goldsman e Rob Marshall
Duração: 145 minutos
País: EUA
Gênero: Drama e Romance
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